O Inquilino (1927) - PRIMEIRO FILME DE Hitchcock - RARISSÍMO - Reliquias em DVDs
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O Inquilino (1927) - PRIMEIRO FILME DE Hitchcock - RARISSÍMO

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O primeiro filme de Hitchcock – é assim que O Inquilino (The Lodger: a Story of The London Fog) é conhecido pelos fãs e reconhecido pelo próprio Hitchcock, não porque tenha sido o primeiro filme do Mestre (antes vieram The Pleasure Garden e The Mountain Eagle), mas porque seja o que inicia várias temáticas que seriam retrabalhadas posteriormente. É o primeiro suspense da carreira de Hitchcock, e o primeiro a trazer a situação do homem “inocente” sendo perseguido. Para mim, “culpa” sempre foi um assunto primordial no conjunto da obra de Hitchcock. O desenvolvimento mais comum deste tema foi o do homem inocente que é considerado culpado por outros, mas é igualmente freqüente encontrarmos personagens que carregam a culpa de terem feito algo que se arrependeram, ou de desconfiarem de alguém, ou de estarem divididos entre o “querer” e o “não poder”… Enfim, os cenários são variados. Vemos esse tipo de situação em Festim Diabólico, A Sombra de Uma Dúvida, A Tortura do Silêncio, Marnie – Confissões de Uma Ladra, etc… Essa repetição da temática da culpa teria algo a ver com Hitch ter estudado em uma escola católica conservadora? Quem sabe… o que é certo é que, além da culpa, vemos sempre vários símbolos religiosos na obra do Mestre. Os dois temas estão presentes em O Inquilino, embora aqui a questão se o personagem de Ivor Novello é culpado ou inocente se sobressaia. O filme cria uma situação de ambigüidade já em seus minutos iniciais (nem tanto para os moradores da casa onde se passa a história, mas sim para os próprios espectadores): o misteriosíssimo personagem de Ivor Novello – que não ganha sequer um nome – seria mesmo O Vingador, um serial killer (obviamente baseado no assasssino real Jack, o Estripador) que só assassina mulheres loiras, em noites enevoadas de terça-feira? Ou é apenas um jovem que aluga um quarto em uma casa de família? Hitchcock, mesmo sendo tão novo quando filmou O Inquilino, conduz essa linha narrativa com maestria ímpar. Quem assiste ao filme simplesmente não pode deixar de prestar atenção no que vai acontecer a seguir, porque todos nós queremos a resposta para a identidade de Novello. Esse cenário ambíguo proporcionou uma grande oportunidade artística para Hitch, que pode inserir várias cenas de duplo sentido. Por exemplo, quando o hóspede e a moça que vive na casa (e é loira) jogam um inocente jogo de xadrez, ele diz a ela: “Vou te pegar”. Ora, esse comentário pode muito bem fruto da competição do momento, mas, se Novello é o assassino, isso pode significar que a garota é uma das próximas vítimas do serial killer! O jogo criado por Hitchcock é brilhante, criando um suspense bem à frente da época em que foi feito. Os elementos religiosos são poucos neste filme, mas sempre aparecem em cenas-chave. Quando Novello entra pela primeira vez no seu quarto alugado, ele dá uma olhada pela janela. A câmera é posicionada de fora, filmando diretamente o rosto do protagonista. Com isso, a sombra das grades da janela formam uma cruz sobre o rosto de Novello, como que numa tentativa de avisar a platéia que a culpa sobre alguma coisa vai recair sobre o jovem em algum momento, mesmo que essa culpa seja merecida ou não. Já no final do filme, quando Novello é perseguido por uma turba enlouquecida (eles tem certeza que o hóspede é o Vingador), ele tenta escapar com uma cerca e fica preso a uma grade, lembrando o Cristo crucificado. Jesus morreu pagando por crimes que outros cometeram, o que cria uma identificação com o protagonista do longa (ele realmente não assassinou as loiras). Mais uma vez, o fator “culpa” é trabalhado pelo Mestre, mas com um viés religioso. Assim como em A Mulher do Fazendeiro, Hitchcock também faz algumas experimentações cinematográficas interessantes. A primeiríssima cena, por exemplo é uma montagem caleidoscópica que contextualiza freneticamente os assassinatos do Vingador. Ao mesmo tempo que conta a história, o Mestre inova e cativa o espectador. Outra cena, talvez a mais famosa do filme, seja aquela em que Ivor Novello caminha sobre um chão de vidro, dando a entender que os donos da casa estão ouvindo seus passos. É mais uma solução criativa de Hitch para não precisar fazer uso de legendas. Para ele, apenas a imagem era necessária. O cineasta sempre afirmava que o verdadeiro cinema era o mudo. Por incrível que pareça, as únicas cenas em que a montagem não decepciona são as descritas acima. Honestamente, a edição de O Inquilino é uma das piores que eu já vi em relação à continuidade, mesmo considerando o cinema da época. Cenas em que há “pulos” e os personagens mudam de posição drasticamente estão espalhadas por todo o longa. O melhor – ou pior – exemplo dessa montagem descuidada é quando a dona da casa está no topo da escada em um determinado momento, depois a ação corta para a mulher andando no andar de baixo, para depois ela reaparecer como mágica no andar de cima! O pior de tudo é que o editor do filme, Ivor Montagu, ainda trabalhou com Hitch em dois de seus filmes posteriormente (Downhill e Vida Fácil)! O cineasta claramente ainda não sabia escolher uma boa equipe de produção… Outro fato que deve ser comentado sobre essa produção é o fato de ser a primeira vez também que a polícia é tratada como incompetente. Aqui, Joe, o policial, demora mais do que a própria dona da casa a perceber que Novello pode ser O Vingador! Sabe-se que Hitchcock nunca gostou de policiais, porque quando era pequeno, cometeu uma travessura e o seu pai o mandou para a delegacia com um bilhete para os oficiais. Nele, o pai pedia que prendessem seu filho por alguns minutos e depois o soltassem. O cineasta revelou que a experiência o traumatizou profundamente, o que se refletiu em seus filmes. Como para se vingar, em poucos filmes a força policial faz alguma coisa de útil (na maioria das vezes, ela até complica a situação!). O Inquilino ainda conta com uma excelente atuação de Ivor Novello, que apenas com suas expressões faciais consegue passar uma gama de emoções. Em sintonia com a direção ambígua de Hitch, ele ora ganha ares ameaçadores e ora se comporta como um jovem sensível e indefeso, o que demonstra o seu grande talento. Grande ator de teatro, Novello faria poucos filmes. Ele voltaria a ser dirigido pelo Mestre em Downhill, que não alcançou o mesmo sucesso de O Inquilino. Por fim, queria só compartilhar a minha opinião sobre o desfecho. Eu acho que Novello pode, sim, ser O Vingador, já que na última cena, em que ele está abraçado à moça loira, pode-se ver ao fundo o cartaz que sempre aparecia quando o assassino fazia mais uma vítima: “Tonight: Golden Curls” (Hoje à Noite: Cachos Dourados). Seria uma brincadeira feita por Hitchcock ou uma pista séria? Nunca saberemos

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